BRASIL:Arpilleras de mujeres
Exposição propõe uma revisão da história do Brasil a partir das narrativas de protagonistas como os povos originários, os movimentos sociais e as lideranças populares
Publicado 26/08/2022 - Atualizado 26/08/2022
Ontem, 25, o Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (MASP) promoveu a abertura da exposição “Histórias Brasileiras”, que conta com três arpilleras – painéis bordados coletivamente pelas mulheres do Movimento dos Atingidos por Barragens – MAB.
A exposição é apresentada no ano em que se completam 200 anos da “Independência do Brasil” e 100 anos da Semana de Arte Moderna. “Há hoje uma intensa revisão das histórias do Brasil – expressa em livros, exposições, conferências, filmes e documentários. Quais são os temas, as narrativas, os eventos e as personagens a serem celebrados, estudados e questionados neste longo e conflituoso processo? Quais têm sido esquecidos de maneira proposital?”, questiona o texto curatorial.
História não oficial do Brasil
Nesse sentido, a proposta do Núcleo Retomadas, onde estão as arpilleras, é apresentar novas narrativas sobre a história do país, destacando a perspectiva de diferentes atores: indígenas, movimentos sociais, artistas populares e outros personagens que foram marginalizados na história oficial.
Segundo Sandra Benites, uma das curadoras da Mostra, as obras selecionadas mostram a história de grupos que vêm resistindo no Brasil a diversos processos violentos desde a colonização. “Não dá pra falar da história do Brasil como se ela tivesse começado com a invasão. Por isso, temos esse núcleo da Retomada para falar da retomada dos nossos territórios, das nossas línguas, dos nossos direitos, dos nossos corpos. E, por isso, é tão importante trazer os movimentos sociais que lutam pela terra, pelo alimento, pela energia, pela água, pela dignidade”, afirmou.
A denúncia através da arte
As arpilleras entraram na curadoria da mostra pelo seu caráter político. “Elas trazem uma denúncia sobre os processos de violação de direitos sofridos pelos atingidos na construção e operação de barragens de norte a sul do país. As obras que estão aqui chamam atenção especialmente para o crime de Brumadinho, para a violência praticada contra as mulheres nas barragens da Amazônia e para a luta pelo território”, ressalta Dalila Calisto, integrante da coordenação do MAB.
Nesse sentido, mais do que uma obra de arte coletiva, as arpilleras são uma ferramenta de educação popular que retratam o cotidiano das mulheres atingidas por barragens e reivindicam um novo projeto de país e um novo modelo energético.
As obras são criadas em encontros em que, primeiro, as mulheres refletem coletivamente sobre sua realidade e depois projetam suas ideias e seus sonhos no papel. Finalmente, com agulhas e tecidos, elas materializam a obra.
Genilse Gomes, integrante da Central de Movimentos Populares, parabenizou o MAB pela participação. “É muito bonito ver as mulheres contando sobre sua história e sua luta através da arte e sendo reconhecidas. Estamos em uma exposição que conta as histórias brasileiras e o MAB está dentro dessa história, em um dos museus mais importantes do país”, destacou.
Outra convidada do MAB na abertura, Luciana Feitosa Sousa, da Congregação das Irmãzinhas da Imaculada Conceição, afirmou que a força feminina está na coletividade. As mulheres de tantas partes do Brasil, especialmente das comunidades ribeirinhas, têm a sua forma de lutar e vencer juntas. Nós somos muito fortes e vamos mudar essa estrutura social, em que o peso sobre nós é muito grande. Estou muito feliz de ver um espaço que valoriza os movimentos sociais e fortalece a luta pela vida e pela democracia”, destacou.
As arpilleras já foram expostas em diferentes mostras no Brasil e no exterior: no Museu Arqueológico, Etnográfico e Histórico Basco, em Bilbao, na Espanha (2016), no Memorial da América Latina em São Paulo (2015); no Cine Odeon no Rio de Janeiro (2017); no Museu de Arte da Bahia em Salvador (2020) e na Câmara dos Deputados (2020), entre outros espaços.
Conheça aqui o acervo virtual das arpilleras.
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